Nutricionista Anna Christina Castilho
Nutricionista Clínica do IMeN – Instituto de Metabolismo e Nutrição
Especialista em Nutrição Clínica
Histórico e Conceitos:
Os primeiros estudos científicos sobre probióticos datam do começo deste século com o trabalho de Metchnikoff, do Instituto Pasteur. Esse investigador postulou que os probióticos produziam efeitos benéficos no hospedeiro, porque antagonizavam bactérias perniciosas no intestino (12,30). A hipótese inicial sobre os probióticos propunha que as cepas bacterianas que aderissem à superfície da mucosa intestinal de forma mais eficiente seriam mais benéficas para os seus portadores (36).
O termo probiótico foi definido inicialmente como: “organismos vivos que quando ingeridos exercem efeito benéfico no balanço da flora bacteriana intestinal do hospedeiro” e ampliado posteriormente para: “organismos vivos que quando ingeridos em determinado número exercem efeitos benéficos para a saúde” (6). A definição atual é a seguinte: "suplemento alimentar microbiano vivo, que afeta de forma benéfica seu receptor, através da melhoria do balanço microbiano intestinal" (12,36).
Segundo Hutcheson e col (17), os probióticos devem apresentar algumas características específicas, quais sejam: serem habitantes normais do intestino, reproduzirem-se rapidamente, produzirem substâncias antimicrobianas, resistirem ao tempo entre a fabricação, comercialização e ingestão do produto devendo atingir o intestino ainda vivos.
Os probióticos são classificados como alimentos funcionais. Na análise da legislação e segundo critérios de classificação clinica e ou experimental, podemos visualizar a clara relação entre a conceituação e a função dietoterápica desse grupo de alimentos.
Segundo o “Institute of Medicine of the U.S National Academy of Sciences”, qualquer alimento ou ingrediente alimentar que possa exercer efeito benéfico no organismo pode ser considerado alimento funcional (38).
O termo alimento funcional foi introduzido, inicialmente, no Japão, em meados dos anos de 1980, referindo-se aos alimentos processados, contendo ingredientes que auxiliam as funções específicas do organismo, além de serem nutritivos (15). Até esta data, o Japão era o único país que havia formulado um processo de regulação específico para os alimentos funcionais, conhecidos como Alimentos para Uso Específico de Saúde – FOSHU (“Foods for Specified Health Use”). Estes alimentos são qualificados e trazem um selo de aprovação do Ministério da Saúde e Previdência Social japonês (8). Atualmente, 100 produtos estão licenciados como alimentos FOSHU no Japão.
O conceito mais amplo para alimentos funcionais foi dado por Roberfroid e col como: componentes bioativos, nutrientes ou não nutrientes, contidos dentro dos alimentos que exercem efeito benéfico para a saúde, e este efeito é dito “efeito funcional” (34).
LAJOLO (22) define alimento funcional como “alimento semelhante em aparência ao alimento convencional, consumido como parte da dieta usual, capaz de produzir demonstrados efeitos metabólicos e fisiológicos úteis na manutenção de uma boa saúde física e mental, podendo auxiliar na redução do risco de doenças crônico-degenerativas, além das suas funções nutricionais básicas”.
De acordo com a legislação brasileira, Resolução 18 e 19 de 30 de Abril de 1999 da Vigilância Sanitária (3), o termo correto para definir alimentos funcionais seria: alimentos com propriedades funcionais ou com propriedades de saúde. A legislação estabelece critérios específicos para que um alimento possa ser considerado como funcional e a regulamentação varia em cada país; além do mercado sofrer influência da cultura, do conceito de saúde e da aceitabilidade dos consumidores.
Para a Associação Dietética Americana (1), os alimentos funcionais incluem alimentos integrais, fortificados, enriquecidos ou restaurados, que apresentam potencialmente, efeitos benéficos para a saúde, quando consumidos como parte de uma dieta variada (2).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1) ADA (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION). Position of the American
Dietetic Association: phytochemicals and functional foods. J.Am.Diet.
Assoc. V95, p 493-496, 1995.
2) ADA (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION). Functional Foods – Position of
ADA. J.Am.Diet.Assoc.v99, p1278-1285, 1999.
3) Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 18, de 30 de abril de
1999 (republicada em 03/12/1999) e Resolução nº 19, de 30 de abril de
1999 (republicada em 10/12/1999).
4) BALMER S.E, WHARTON B.A. Diet and faecal flora in the newborn:
breastmilk and infant formula. Arch Dis Child 1989; 64:1672-7.
5) BETTELHEIN K.A, LENNOX S.M. The acquisition of Escherichia coli by new
born babies Infection 1976; 4:174-9.
6) BRADY L.J, GALLAHER D.D, BUSTA F.F. The role of probiotic cultures in the
prevention of colon cancer. J Nutr 2000;130 Suppl. 2S:410S-4S.
7) BORGES VC. Alimentos Funcionais: Prebióticos, Probióticos, Fitoquímicos e
Simbióticos: 1495-1501. In: WAITZBERG DL. Nutrição oral Enteral e
parenteral na prática clínica. Ed Atheneu, 2001.
8) COSTA, N.M.B. e BORÉM, A. Biotecnologia em Nutrição – saiba como o DNA
pode enriquecer os alimentos. São Paulo: ed Nobel, 2003.
9) DAI D, WALKER W.A. Protective nutrients and bacterial colonization in the
Immature human gut. Adv Pediatr ; 46:353-82, 1999.
10) FOOKS L.J, GIBSON G.R. Probiotics as modulatorsd of the gut flora. British
Journal of Nutrition, 88, Suppl.1, S39-S49, 2002
11) FUJIMURA H. et al, Ensaios toxicológicos sobre o preparado de
Lactobacilos LP-201. Departamento de Farmacologia, Escola de
Medicina da Universidade de Gifu, Japan, pg 6/37.
12) FULLER R. Probiotics in man and animals. J. Appl. Bacteriol, 1989, 66, 365-
378.
13) GONZALES et al. Inibition of enterophthogens by lactobacilli strains used in
fermented milk. Journal of Food Protection. V 56, nº 9, p 773-776, 1993.
14) GUTIERREZ, L.E. Comunicação pessoal. Prof Dr. Da escola Superior da
Agricultura “Luiz de Queiroz”- Universidade de são Paulo, Piracicaba,
SP.
15) HASLER, C.M. Functional Foods: their role in disease prevention and health
promotion. Food Technology, v52, n11, p 63-70, 1998.
16) HOVE H, NORGAARD H, MOERTENSEN P.B. Lactic acid bacteria and the
human gastrointestinal tract. Eur J Clin Nutr 1999; 53:339-50.
17) HUTCHESON D. Research lists characteristics of probiotics. Feedstuffs,
1987, 14:8-10.
18) KANAMORI, Y. et al. Combination Therapy with Bifidobacterium breve,
Lactobacillus casei and Galactooligosaccharides Dramatically Improved
the Intestinal Function in a Girl with Short Bowel Síndrome. Digestive
Diseases and Sciences,V 46, nº 9, p 2010-2016, 2001.
19) KHEDKAR, C.D, MANTRI J.M, GARGER, R.D, KULKARNI, S.A, KHEDKAR,
G.D. Hypocholesterrolaemic effect of fermented milks: a review. Cultured
Dairy Products Journal, V 28, nº3, p 14, 16-18, 1993.
20) KLAENHAMMER T.R. Probiotic bacteria: today and tomorrow. J Nutr
2000;130 Suppl. 2S:415S-6S.
21) LAIHO, K. et al. Probiotics: on going research on atopic individuals. British
Journal of Nutrition, 2002, (88), Suppl.1, S19-S27.
22) LAJOLO, F.M. Alimentos Funcionais: uma visão geral. In: DE ANGELIS,
R.C. Importância de alimentos vegetais na proteção da saúde: fisiologia
de nutrição protetora e preventiva de enfermidades degenerativas, São
Paulo: ed Atheneu, 2001.
23) MATSUZAKI T, CHIN J. Modulating immune responses with probiotic
bacteria. Immunol Cell Biol 2000; 78:67-73.
24) MITSUOKA, T. Microbes in the intestine – Our lifelong partners, published by
Yakult Honsha Co, Ltd, Tokyo, Japan, 1989, pg 28.
25) NAIDU A.S, BIDLACK W.R, CLEMENS R.A. Probiotic spectra of lactic acid
bacteria (LAB). Crit Rev Food Sci Nutr 1999; 39:113-26.
26) NAKAJIMA, H; SUZUKI, Y.; KAIZU; HIROTA, T. Cholesterol lowering activity
of ropy fermented milk. Journal of Food Science, V 57, nº 6, p 1327-1329,
1992.
27) NAKAMURA, Y. et al. Antihypertensive effect of sour milk and peptides
isolated from it that are innibitors to angiotensin L-converting enzyme.
Journal of Dairy Science, V 78, nº 6, p1253 – 1257, 1995.
28) OHASHI Y. et al. Habital Intake of Lactic Acid Bacteria and Risk Reduction of
Bladder Cancer. Urol Int, 2002; 88; 273-280.
29) PATEL J.R, DAVE J.M, DAVE R.I, SANNABHADTI, S.S.Effect of feeding
milk fermented with mixed culture of human strains of lactobacilli on
faecal lactobaccili and coliform counts in human test subjects. Indian
Journal of Dairy Science,V 45, nº 7, p 379-382, 1992.
30) PENNA F.J, FILHO L.A.P, CALÇADO A.C, JUNIOR H.R, NICOLI J.R. Bases
experimentais e clínicas atuais para o emprego dos probióticos. J Pediatr
(RJ) 2000; Suppl. 2:209S-17S.
31) PHUAPRADIT P, VARAVITHYA W, VATHANOPHAS K, SANGCHAI R,
PODHIPAK A, SUTHUTYORAVUT U, et al. Reduction of rotavirus
Infection in children receiving bifidobacteria-supplemented formula. J
Med Assoc Thai 1999; 82 Suppl. 1S:43S-8S.
32) PISTON, R.L; GILLILAND, S.E. Influence of frozen and subsequent
refrigerated storage in milk on ability of Lactobacillus acidophilus to
assimilate cholesterol. Cultured Dairy Products Journal, V4, nº 29, p 9, 11-
14, 16, 29, 1994.
33) Revista Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNP), nº 36,
Nov–Dez, 2001.
34) ROBERFROID, MD. The bifidogenics nature of chicory inulin and its
hydrolysis products. J. Nutr, 1988, 128:1-9.
35) ROBINSOS R.K. The therapeutic effects of various cultures, Therapeutic
properties of fermented milks. London: Elsevier, 1991. Cap 3, pg 45 –
64.
36) ROLFE R.D. The role of probiotic cultures in the control of gastrointestinal
health. J Nutr 2000;130 Suppl. 2S:396S-402S.
37) SAAVEDRA J. Probiotics and infectious diarrhea. Am J Gastroenterol 2000;
95 Suppl. 1S:16S-8S.
38) SIMHON A, DOUGLAS J.R, DRASAR B.S, SOOTHILL J.F. Effect of feeding
on infants’ faecal flora. Arch Dis Child 1982; 57:54-8.
39) VON WRIGHT A, SALMINEN S. Probiotics: established effects and open
questions. Eur J Gastroenterol Hepatol 1999; 11:1195-8.
40) WEBER G. Protecting Your Health With PROBIOTICS The “friendly”
bacteria. Green Bay, Wi: Impakt, 2001.
41) YOKOKURA, T. et al. Lactobacillus casei strain Shirota – Intestinal Flora
Human Health. Edited by Yakult Central Institute for Microbiological
Research, Tokyo, Japan, 1999, pg 8, 107, 113-116, 137, 140, 233.
42) YUKI N, WATANABE K, MIKE A, TAGAMI Y, TANAKA R, OHWAKI M, et al.
Survival of a probiotic, Lactobacillus casei strain Shirota, in the
gastrointestinal tract: selective isolation from faeces and identification
using monoclonal antibodies. Int J Food Microbiol 1999; 48:51-7.
Sites pesquisados: