Hormônio do crescimento – Características Gerais e aplicação clínica

Anna Christina Castilho

Nutricionista Clínica e Esportiva do ImeN

O hormônio de crescimento humano (hGH), também chamado de hormônio somatotrófico (ST), é uma pequena molécula protéica, produzido endogenamente por estímulos diretos e indiretos em resposta a diversas condições e fatores metabólicos.

CONDIÇÕES ESTIMULANTES

FATORES METABÓLICOS

Estresse

Exercício

Dor

Sono

Jejum

 

Insulina

Hipoglicemia

Arginina

Glucagon

L-dopa

Depleção protéica

Estrógenos

Vasopressão

Estimulação a -adrenérgica

Fonte Guyton, 1984

A [ ] sérica normal de GH é de aproximadamente 3g/ml no adulto e de 5g/ml na criança. Estes valore podem se elevar até 50g/ml após depleção dos depósitos corporais de proteínas e carboidratos. A meia-vida do GH endógeno é de 20 a 30 minutos e a liberação diária é de 0,2 a 1mg/dia no adulto.

Algumas situações clínicas podem diminuir a secreção endógena do GH como hepatopatias, doença pulmonar, queimaduras graves, idade avançada, obesidade, diabetes, gravidez, jejum prolongado, etc.

Os efeitos metabólicos e nutricionais do GH endógeno e de sua administração exógena são inúmeros e estão demonstrados abaixo:

Efeitos do GH sobre o metabolismo

Proteínas

Diminui o catabolismo protéico

Facilita o transporte intracelular de aminoácidos

Promove síntese de proteíans ribossômicas

Aumenta a retenção de N no músculo esquelético

Diminui a uréia e creatinina plasmática

Glicose

Diminui a oxidação da glicose

Aumenta a deposição de glicogênio

Diminui a resposta insulínica

Ácidos Graxos

Estimula a mobilização de gorduras

Aumenta a oxidação de ácidos graxos

Estimula a conversão de ácidos graxos em Acetil Co-A

Aumenta os níveis circulantes de lipídeos intermediários

Aumenta os ácidos graxos monoesterificados

Aumenta a produção de corpos cetônicos

Equilíbrio hidroeletrolítico

Fósforo- aumento lento e gradativo

Na- retenção

Água- retenção

Cl- retenção

Ca- pequena elevação

Aumenta os níveis de creatinina urinária

Diminui o fluxo plasmático renal

Aumenta a taxa de filtração glomerular

Gasto energético

Aumento do consumo de O 2 e gasto energético

Menor produção de CO 2 em relação ao O 2 produzido

Síntese orgânica

Diminui o quociente respiratório

Diminui a produção de alanina

Estimula a síntese de glutamina

 

Em relação ao metabolismo protéico ele favorece o transporte de aminoácidos para o interior das células, promovendo o aumento da síntese protéica.

Quanto ao efeito no metabolismo das gorduras, quando o GH estiver em excesso, a mobilização e oxidação de ácidos graxos se torna intensa, formando grandes quantidades de ácido acetoacético no fígado, causando cetose e esteatose hepática.

Em relação a metabolismo glicídico, após 30 – 60 minutos da administração do GH exógeno, os níveis normais de glicose sérica diminuem, reduzindo sua entrada na membrana celular (por ocupação dos receptores insulínicos), tendo como consequência a instalação da hiperglicemia. A [ ] aumentada de glicose sanguínea estimula maior secreção de insulina a tal ponto que seus depósitos se esgotam. Trata-se do efeito diabetogênico do GH.

Nos adultos, trabalhos mostram que ele atua no retardo do envelhecimento, na redução de gordura corporal e aumento da massa muscular, levando diversos individuos, principalmente praticantes de atividades físicas que envolvam hipertrofia a fazer uso exógeno deste hormônio sem se preocupar com os efeitos nocivos relatados, na busca de um “corpo perfeito”. Porém, os efeitos da administração exógena de GH em indivíduos normais (não-deficientes do hormônio) são controversos. Além disso, a maioria dos estudos constata aumento de massa muscular não acompanhada por aumento de força muscular. Na acromegalia, uma doença irreversível ocasionada pelo excesso de GH, os indivíduos apresentam musculatura hipertrofiada, porém funcionalmente fraca.

O uso do GH antes da prática de atividade física caracteriza dopping . O uso de GH está associado a inúmeros efeitos colaterais. Acredita-se que, quando os indivíduos utilizam doses 10 vezes maiores do que as usadas como reposição hormonal em indivíduos deficientes (0,6 UI/kg), esses efeitos podem se apresentar. Entre eles, figuram: crescimento inespecífico de todos os órgãos; alargamento facial (nariz, orelhas e língua); aumento do tamanho de mãos, pés, queixo, mandíbula; diabetes, doenças tiroidianas; impotência; fechamento prematuro das epífises ósseas em indivíduos em fase de crescimento; hiperlipidemia; e desordens menstruais. Existem ainda relatos de que o abuso na utilização de GH promove engrossamento e aumento da aspereza da pele, produzindo um quadro denominado “epiderme de elefante”. Finalmente, outros autores alertam para o fato de que a combinação de efeitos colaterais do abuso do GH, como o diabetes, o aumento do coração (cardiomegalia) e a hiperlipidemia, certamente contribui para a redução do tempo de vida do indivíduo.

Referências Bibliográficas:

GUYTON A.C. Tratado de Fisiologia Médica, 6: 797-801, 1984.

JEEVANANDAM M. e cols. Decreased growth hormone levels in the catabolic phase of severe injury. Surgery, 111(5): 495-502, 1992.

MAGNONI D. E CUKIER C. Perguntas e Respostas em Nutrição Clínica. 2ed. São Paulo: Roca, 2004.

BACURAU R.F.P. Anabolizantes. In: Lancha Junior AH. Nutrição e metabolismo aplicados à atividade motora. São Paulo: Atheneu, 2002. p 170-4.