Cefaléias e Nutrição: Mitos e Verdades

Mario F. P. Peres

 

Médico Neurologista

 

Pós-doutorado na Thomas Jefferson University

 

Jefferson Headache Center, Philadelphia, USA

 

 

Cefaléias é o termo médico que designa as dores de cabeça. As cefaléias podem aparecer em virtualmente todo ser humano. Estudos mostram que de 90 a 100% das pessoas tem ou terão alguma crise de dor de cabeça ao longo da vida. Portanto, quem ainda não teve provavelmente ainda terá na vida uma crise de cefaléia.

As cefaléias são categorizadas como sendo primárias ou secundárias. Quando são um sintoma de alguma doença, são chamadas de cefaléias secundárias, quando ocorrem em tumores cerebrais, aneurismas, infecções, traumatismos cranianos e outras situações. Quando as dores são por si só a manifestação principal da doença, a chamamos de cefaléia primária, como é o caso da enxaqueca, cefaléia tipo tensional, cefaléia em salvas e muitas outras.

A enxaqueca é uma doença comum, incapacitante, caracterizada por crises de dor pulsátil, latejante, que duram 4 a 72 hs, podendo ser de um lado da cabeça, e acompanhadas por vezes por náuseas, vômitos, sensibilidade a luz, barulho, e eventualmente por pontos escuros ou luminosos na visão. A enxaqueca é uma das principais causas de incapacidade e perda produtiva no trabalho, determina um custo para o indivíduo e para sociedade de U$ 13 bilhões por ano nos EUA.

Se a cefaléia é uma experiência de quase todo ser humano e a nutrição elemento crucial na vida de todo ser vivo, a interação dos dois temas é naturalmente ampla e complexa. Mitos e verdades circundam estes tópicos, vamos esclarecer a seguir.

Vamos abordar as diferentes tipos de cefaléias que são originadas ao se consumir determinados alimentos, os diversos fatores desencadeantes alimentares em enxaqueca, e os recentes achados de suplementações vitamínicas como tratamento para a enxaqueca.

Tipos curiosos de cefaléias ligadas a alimentação são descritos. A cefaléia do sorvete, ou cefaléia por estímulo frio, é originada após o consumo de sorvetes, havendo um estímulo das estruturas da boca e garganta levando à dor de cabeça, é uma cefaléia benigna, cujo tratamento consiste na retirada do estímulo frio, da ingesta sorvete.

A CEFALÉIA DO RESTAURANTE CHINÊS, ou cefaléia secundária a ingesta de glutamato monossódico, também conhecido como aji-no-moto, também é descrita. Ocorre uma cefaléia após o consumo desta substância, muito usada na culinária chinesa. O glutamato é um aminoácido excitatório do sistema nervoso central que faz com que o sistema de dor esteja mais excitável e propenso a crises.

Vários são os fatores desencadeantes alimentares de crises de enxaqueca, mas muito mais frequentes são os mitos relacionados a eles. Podemos dizer que existem três grandes fatores alimentares que causam enxaquecas: o jejum, as bebidas alcoólicas e a alta ingesta de cafeína.

Jejum é um dos mais frequentes desencadeadores de enxaqueca, juntamente com o stress. Bebidas alcoólicas todas causam cefaléia, porém os vinhos tintos são mais prováveis de provocar a dor devido ao seu conteúdo de taninos. A relação álcool – enxaqueca é dose dependente, se a bebida for consumida em grande quantidade as chances são maiores da conhecida “ressaca”. Admite-se que um consumo de mais de 200 mg de cafeína por dia torna um indivíduo mais susceptível para ter crises de enxaqueca, isto significa o uso de três cafés expressos por dia, ou cerca de cinco xícaras de café coado, ou cinco latas de coca-cola. Além disso o uso de cafeína após as 18 hs desestrutura o ritmo normal de sono, o que também pode causar enxaqueca. Uma outra síndrome é a cefaléia da retirada da cafeína, que acontece quando no final de semana a tomada de café em grandes quantidades durante a semana é parada.

Uma lista grande de outros alimentos provocadores de cefaléia existem, como adoçantes, leite, queijos fortes, frutas cítricas, nozes, banana, feijão, doces, salsicha, condimentos, pimenta, mas não há evidência científica que dietas ou mesmo que a busca ativa de desencadeantes alimentares resultem em algum benefício clínico.

Recentemente alguns estudos controlados com placebo mostram que a RIBOFLAVINA, a vitamina B2, em altas doses é significativamente eficaz na profilaxia da enxaqueca. Da mesma forma, o magnésio e a COENZIMA Q 10 também se mostraram eficazes. O mecanismo pelo qual estes produtos agem na enxaqueca é incerto mas é possível que ocorra estabilização de membrana celular e melhora da função mitocondrial. Outra substância que age favoravelmente na enxaqueca é a MELATONINA. Estudos mostram que seus níveis estão diminuídos na enxaqueca e que sua suplementação é eficaz na prevenção da enxaqueca.