Boldo, o chá das vovós

Cha de Boldo em detalhes

 

De origem chilena, mais especificamente da Cordilheira dos Andes, o Boldo do Chile (Peumus boldus Molina) é uma planta com folhas aromáticas e intenso sabor amargo, popularmente utilizado no preparo de chás e infusões, para diversos fins terapêuticos. Apesar de ser originário do Chile o boldo, é cultivado em quase todos os países latino-americanos, pois se desenvolve especialmente em regiões tropicais e subtropicais. 1,2

         Já no Brasil, esta planta se caracteriza por ser amplamente cultivada em quintais e muito comercializada em mercados e feiras populares, pois se sabe que aproximadamente 66% da população brasileira não possui acesso aos medicamentos convencionais para o tratamento de suas enfermidades. 3

O chá de Boldo é geralmente empregado para o tratamento de distúrbios hepáticos e gastrintestinais, como a má digestão, azia, cólica e diarreias, além de possuir ação diurética.  Atualmente tem sido fortemente reconhecido o efeito antioxidante, anti-inflamatório e hepatoprotetor do extrato da folha de boldo. Esses benefícios se devem as substâncias antioxidantes que possuem em comum o fator de conferirem o sabor amargo ao boldo: a boldina, a catequina e os flavonóides. 4,5

A boldina impede a peroxidação lipídica e sequestra os radicais livres que danificam as células, além de desempenhar ação anti-inflamatória comprovada. Alguns estudos recentes demonstram que a boldina pode evitar o estresse oxidativo decorrente da hiperglicemia em indivíduos portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, além de auxiliar no relaxamento arterial e evitar danos renais nesta população. 6,7

Os flavonóides desempenham uma notável função antioxidante, atuando na prevenção de doenças cardiovasculares e determinados tipos de câncer, já as catequinas agem diretamente no metabolismo das gorduras e diminuem os níveis sanguíneos de colesterol total. 8,9,10

O consumo excessivo de chá de boldo pode provocar vômitos, diarreia e alterações do sistema nervoso, incluindo a neurotoxicidade. Seu consumo é contraindicado nos casos de doenças hepáticas severas, obstrução das vias biliares, cálculos biliares, infecções e câncer no pâncreas. Gestantes não devem fazer uso do boldo do Chile, já que o consumo excessivo desta planta na forma de chás ou infusões pode induzir efeitos teratogênicos, ou seja, causar má formação no feto além de possuir ação abortiva. 4,6

A ANVISA, órgão que atua juntamente com o Ministério da Saúde, regulamenta o uso do Boldo do Chile e orienta o consumo seguro de 1 a 3 gramas da folha de boldo em 150 ml de água para consumido na forma de chá. 11

Luiza Maria Pinheiro Cipriano

Referências Bibliográficas:

1.MADALENO, Maria Isabel. Arca de Noé Florida: Saberes e práticas medicinais ancestrais da América Latina. 2008. Workshop Plantas Medicinais e Fitoterapêuticas nos Trópicos. IICT /CCCM- Instituto de Investigação Científica Tropical – Programa de Desenvolvimento Global (GEO-DES).Disponível em:<http://www2.iict.pt/archive/doc/I_Madaleno_wrkshp_plts_medic.pdf>.Acesso em 20 jun.2014

2.BOCHNER, R. et al . Problemas associados ao uso de plantas medicinais comercializadas no Mercadão de Madureira, município do Rio de Janeiro, Brasil. Rev. bras. plantas med.,  Botucatu ,  v. 14, n. 3,   2012 .

3. Coelin, Teila et al.,Relato de experiência do curso de plantas medicinais para profissionais de saúde.2013.Rev.bai. sau. púb.,Pelotas, v.37, n.2, p.501-511abr./jun. 2013.

 

4. ALVES, Leda Maria Tavares; SECAF, Marie; DANTAS, Roberto Oliveira. Effect of a bitter bolus on oral,  pharyngeal and esophageal transit of healthy subjects. Arq. Gastroenterol.,  São Paulo ,  v. 50, n. 1, Mar.  2013

5.SILVA, Michelly de Souza.  Prospecção tecnológica: aplicações fitoterápicas do boldo. Anais Sintec., Aracajú, v. 1,n. 1, p. 592-603,Set.2013

6. SOUZA MARIA, N.C.V. et al . Plantas medicinais abortivas utilizadas por mulheres de UBS: etnofarmacologia e análises cromatográficas por CCD e CLAE. Rev. bras. plantas med.,  Botucatu ,  v. 15, n. 4, supl. 1,   2013. 

7. LAU, Yeh Siang et al., Boldine improves endothelial function in diabetic db/db mice through inhibition of angiotensin II-mediated BMP4-oxidative stress cascade. British journal of pharmacology, Ago 2013.

8. RUIZ, Ana Lúcia T. G. et al . Farmacologia e Toxicologia de Peumus boldus e Baccharis genistelloides. Rev. bras. farmacogn.,  João Pessoa ,  v. 18, n. 2, Jun  2008

9. PALMA,Marilia Gomes. Efeito da ingestão de uma infusão de boldo em

Alguns parâmetros bioquímicos e antropométricos numa população Institucionalizada de idosos. 66f.(Mestrado em Nutrição Clínica) Instituto superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. Caparica. 2013

10. HUBER Lísia Senger, RODRIGUEZ-AMAYA Delia B., Flavonóis e Flavonas: fontes brasileiras e  fatores que influenciam a composição em alimentos.Alim. Nutr., Araraquara. v.19, n.1, p. 97-108, jan./mar. 2008

11. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopéia Brasileira / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2011.