Fórmulas para lactentes
Analisa Gabriela Zuchi Leite
Patrícia Zamberlan dos Santos
Rubens Feferbaum
I. INTRODUÇÃO:
A amamentação dos recém-nascidos humanos tem sido uma característica comum a todas as culturas em todos os tempos. Por outro lado, outros modos de alimentação infantil, têm diferido de acordo com a época e o lugar. Assim, vários costumes alimentares evoluíram historicamente por tentativa e erro, adequados ao ambiente específico e frequentemente constituindo a melhor opção nutricionalmente esperada1.
A amamentação constitui-se, portanto, em "imperativo natural" universal que assegurou a sobrevivência e saúde do bebê. No fim do século XIX e início do século XX, os avanços da ciência, especialmente da bioquímica, conduziram a novas percepções sobre as necessidades nutricionais das populações de regiões que se industrializavam e se reurbanizavam rapidamente na Europa e Estados Unidos1. Os desafios incluíam então, como alimentar bebês e crianças pequenas com segurança, uma vez que nesta época a mortalidade de crianças que não podiam ser amamentadas ao seio era elevada.
De início, a ênfase na alimentação infantil refletia abordagem principalmente quantitativa, considerada mais precisa e, portanto, mais "científica". A análise dos leites humano e de vaca, embora exibindo diferenças, pareciam sugerir que este poderia ser modificado com segurança para satisfazer as necessidades nutricionais dos bebês. Os primeiros substitutos do leite materno usavam como modelo o conhecimento disponível, bastante limitado, sobre o valor nutricional do leite de peito e a fisiologia e necessidades nutricionais do recém-nascido. Por volta de 1920, eram feitas modificações no leite de vaca, com a obtenção de leite em pó evaporado, água e xarope de glicose, o que o tornaram um pouco mais apropriado para alimentação do lactente. Entretanto, o conteúdo protéico dessas fórmulas era superior ao do leite materno e a gordura saturada era de pobre absorção, com poucos ácidos graxos essenciais. Assim, as crianças ficavam sujeitas à inúmeras deficiências de nutrientes como ferro, cálcio e vitaminas.
Com o passar do tempo, foram sendo desenvolvidas práticas mais adequadas de alimentação no primeiro ano de vida, que levaram em conta uma gama maior de considerações como as necessidades nutricionais do bebê, que variam de acordo com peso, idade gestacional, velocidade de crescimento, fatores ambientais; seu grau de maturidade funcional, particularmente quanto ao tipo de alimento oferecido; processos de excreção e defesa contra infecções. Assim, a partir de 1950, foram desenvolvidas fórmulas lácteas mais seguras e de preparo mais fácil, e que hoje são modificadas constantemente com base em estudos a cerca dos requerimentos nutricionais do recém-nascido, sempre tendo como modelo o leite materno.
O leite materno, é indubitavelmente, o que melhor atende as necessidades nutricionais do recém-nascido. Está indicado como alimentação exclusiva em lactentes até seis meses de idade, podendo, paralelamente à introdução de alimentos sólidos, ser mantido até os 12 meses de idade3 ou até 2 anos de idade ou mais, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o UNICEF1.
Entretanto, é sabido que existem situações em que o aleitamento materno não é possível. Nestes casos, é indicado o uso de fórmulas lácteas modificadas para lactentes, que embora ainda não tenham conseguido reproduzir as propriedades imunológicas e digestibilidade do leite materno, atendem as necessidades nutricionais estimadas, segundo o Codex Alimentarius - FAO/WHO14, quando utilizados como fonte única de nutrientes durante os primeiros seis meses de idade.
Além disso, a nutrição de crianças com doenças graves impulsionou o avanço tecnológico de novas fórmulas dietéticas e de soluções enterais, possibilitando sua nutrição, até mesmo quando o trato gastrointestinal é parcialmente funcionante27, o que nos permite escolher o tipo de dieta mais adaptada às necessidades específicas de crianças, de acordo com a sua patologia e condições clínicas, de digestão e absorção.
Para a seleção de uma formulação, seja ela administrada por via oral ou enteral, é necessário o conhecimento dos requerimentos específicos do paciente, bem como da composição exata da fórmula, o que determinarão o sucesso da dietoterapia.
Em pediatria, a maioria das formulações de uso oral, podem também ser utilizadas pela via enteral.
II. CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE FÓRMULAS:
As fórmulas existentes hoje para lactentes, podem resumidamente ser classificadas em:
1. Completas1.1. Poliméricas1.2. Semi-elementares 1.3. Elementares2. Incompletas2.1. Para fins específicos2.2. Modulares ou modularizadas
1. Completas
São aquelas que devido sua densidade calórica, fornecem quantidades de calorias e nutrientes adequadas às necessidades do paciente, sem necessidade de acréscimos. Podem ser:
1.1. Poliméricas
Aquelas em que os macronutrientes, especialmente a proteína, apresentam-se na sua forma intacta.
1.1.1. Fórmulas lácteas modificadas à base de leite de vaca
1.1.2. Leite de vaca
1.1.3. Leite de cabra
1.1.4. Fórmulas à base de soja
1.1.5. Fórmulas isentas de lactose
1.1.6. Fórmulas anti-regurgitação
1.1.7. Fórmulas para prematuros
Semi-elementares ou Oligoméricas